5 de julho de 2005

Heitor aos 5 anos

Nessa fase de pirralho, como me chamava minha antiga vizinha, aquela gorda do 302, eu era mesmo muito franzino, um palito. Só andava todo ralado e estropiado. Assustava-me com tudo e com todos. Assombrava-me com o vento e vivia com medo que algum dia ele pudesse me levar, que talvez me confundisse com um tronco fino e seco. E ainda tinha uma neura com queda.

Horas antes de sair pra escola achava que ia torcer o pé no último degrau da escada da saída do prédio, que todos estariam, não sei por que cargas d´água, vê-se aí a neura, nas janelas dos 28 andares do mesmo, e que minha fratura exposta e suja de terra ficaria exposta aos condôminos que formariam um grandessíssimo coral de risadas altas e escandalosas.

E foi depois de ouvir, ainda menino, por engano, quando entrava na cozinha, uma história que Neuza contava pra minha mãe, que eu tomei pavor também das baianas de acarajé. Meu medo de cair com a cara no tacho de dendê era tanto, que hoje eu só como acarajé se alguém comprar pra mim.

Eu não sei se aquela história da mulher deformada pelo dendê foi verdade porque aquela Neuza era mentirosa que só. Mas que tinha um ar de terror naquela voz rouca somada à aparência dela, isso tinha. Nada contra, mas eu tenho que considerar. Resumo da ópera: eu, um pirralho com 5 anos, que ainda matava lagartixa com badogue, e Neuza uma mulher de 31, com uma bunda que me assombrava e com a “doença da manchinha branca”, que era como eu chamava vitiligo. Foi empregada de lá de casa desde que eu comecei a respirar até o dia que minha mãe reparou que meu pai passou a reparar na bunda e nas outras coisas na Neuza que causavam no mínimo espanto além da doença, claro.

Karine

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Rumo à casa dos 74 kg!!! Desce, gráfico, desce!!!